quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Os incompreendidos

As pessoas de idade, quando já não podem executar todo o seu tipo de "vida pessoal" sozinhas, têm de recorrer a alguém para as ajudar nas mesmas tarefas. Ou seja, neste tipo de situações, elas são comparadas com crianças ainda não capacitadas para fazerem tudo por si próprias.
São pessoas que merecem uma atenção com um olhar redobrado, a qualquer momento de maior agitação.


Tenho o costume, desde 2009, de chamar minha querida vó (85 anos) de neném, pois a partir desse ano houve uma mudança brusca no seu comportamento -o que é visível e normal em idosos-, ela começou a ficar mais dependente, como uma criança e hoje como um bebê.
Agora a trato com mais cuidado, a ouço mais, faço algo simples como colocar um travesseiro debaixo de sua cabeça. Minha vó começou a agir como um neném, a pensar como um neném e eu contribui chamando assim. Primeiro fiquei nervosa porque minha vó não tem doença alguma graças a Deus, mas tem vivido como se tivesse doente, talvez sua única doença seja a incompreensão. Hoje sei que exagero nos abraços apertados e brincadeiras, porém percebo que bem no fundo ela gosta porque se sente mais amada. Moro com minha vó, e certo dia ela tendo viajado, sentiu tanta falta de mim, do meu carinho, que perguntava aflita pela netinha (Rs). Uma prima me disse que cada vez que ela pensa que em poucos anos pode perder nossa avó ela passa aqui para dar um abraço, eu falei que acontecia algo diferente comigo, cada vez que vejo minha avó (o que não é difícil), corro pra abraçar e dar beijos até ela se cansar de mim, demora uns 30 segundos pra ela cansar, não faço isso por medo de perder a vovó mas por carinho como faço com quem amo.
O bebê sente quando lhe é dado extrema atenção e carinho, também é normal sentir medo devido a insegurança, fragilidade. E assim como o universo infantil é muitas vezes desprezado, desconsiderado por aldultos que estão completamente imersos em um "mundo adulto", também acontece com idosos. 

As vezes eu fico refletindo quando chamo minha avó de neném porque não é bom ela pensar que eu a vejo como neném, ressalto que a chamo assim por apelido carinhoso, começei a fazer isso por teste, agora sinto que posso continuar a chamando de neném, mas tenho que parar de tratá-la como um neném, ela precisa de carinho, amor e não de comoção, nem de alguém que pense que ela é impossibilitada de executar tarefas sozinha.
Penso que a compreensão é a chave para a conquista de sorrisos dos idosos, existem alguns que estão ativos e acham que têm que viver bem, curtir muito, com alimentação e hábitos saudáveis -é o que eu chamo dos que estão na primeira fase-, quando a pessoa sente a degenerescência das células, seu corpo fraco, e quer aproveitar o tempo que tem de vida com intensidade, parecendo que desejam continuamente a reversão do que ocorre com o corpo. E a segunda fase é quando o idoso se menospreza, alguns se sentem inúteis e desprezados pela família e deixam isso ser notório, é comum! O que me causa estranheza e preocupação, talvez eu me inclua nesse grupo, são os idosos de meia fase (geralmente têm entre dezoito a trinta anos), esses desperdiçam sua existência com dramas familiares, vícios diversos e, principalmente falta de amor. Falta amor por si mesmo, falta amor pelo próximo e por Deus acima de todas as coisas. Idosos e também vítimas do sistema, assim como os idosos da primeira fase, os de meia não conseguem ficar parados, querem trabalhar em algo a todo tempo. Eu admiro isso, só não gosto de quando esses idosos (de meia fase) esquecem os antigos valores, até mesmo não se preocupam com a saúde.
Ah! Mas os realmente de melhor idade, primeira e segunda fase, têm muito a ensinar aos de meia fase, mas quem dera que eles ouvissem! Seria uma boa saída para readaptarmos nosssos valores carcomidos pelo preconceito e pela mania de digerir os enlatados e a cultura dos países de primeiro mundo. Acho que entendi por que os idosos ficam assim... com cara de injustiçados; Sim, eu estou errada em tratar minha vó como um bebê. E vocês, entenderam? Simplesmente, é porque eles não gostam de de ver a sua geração ser dizimada como se a idade fosse uma doença contagiosa letal, eles querem compreensão. Como diz num depoimento um idoso de 60 anos : Idosa é a pessoa que tem muita idade, velha é uma pessoa que perdeu a jovialidade.
Nesse sentido, é necessário entender que eles querem ser tratados como idosos e não como velhos. O que eu acho um aburdo e muito triste são idosos que ficam em lar para idosos, onde por ali vegetam (não estou a exagerar), pagam muito pela sua, muitas vezes breve, estadia. Um lar bonito, físicamente irrepreensível, onde reina a disciplina, o asseio, o profissionalismo. Um lar, feito para receber muitos velhos, certamente idealizado por alguem com grande visão futura: cheio de quartos, salas de lazer (vazias), e todas as condições , para que quem lá viva, possa ter uma vida minimamente condigna. Nisso quem deve refletir são os que pensam que os pais gostariam de ficar por ali, um lugar bonito, mas é preciso entender que tudo que eles precisam são coisas fundamentais as quais não tem no lar para idosos: amor e família.
Sendo assim, que tal valorizar mais os que muito precisam de amor, atenção, respeito compreensão e carinho: os idosos. "A idade não incapacita, o preconceito sim. E viva a diversidade!"
Alice Kerolin.

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